Há quem nom associe directamente a figura do gato co celtismo ou a Druidaria, mas o certo é que este animal tamém tem o seu papel na nossa cultura e religiom, como em tantas outras crenças e mitologias do mundo. Este é o segundo texto da série ‘Natureza Céltica‘.
Em perspectiva histórica, o gato é polo geral um animal benéfico à vez que enigmático. Na Galiza, um bom gato é sempre apreciado por ser protector do grao e das colheitas, controlador de pestes, útil nas casas. O gato fai isso tudo sem pedir nada em troca, se calhar só algum mimo e um bocado de comida.
Mas o gato pode parecer apresentar algumhas ambiguidades, desde o ponto de vista humano, claro.
Já foi associado à guarda do Além, como um ser que ajuda a controlar as suas fronteiras. Igualmente, foi ligado à adivinhaçom do futuro, mediante a observaçom dos seus movimentos e comportamento.
Umha antiga deidade gaélica, da que pouco sabemos, é Palu – Cath Palug, A Garra – a deusa-gata filha de jabarim, irmá de loba e águia, grande como um cavalo, que desde a sua cova-santuário oracular acabou por viver com Murchata, o gato do Mar da Irlanda, nessas mesmas águas.
O relato céltico talvez mais conhecido tem a ver co Rei dos Gatos na Irlanda, Irusan, um gato gigantesco – “até do tamanho duma vaca” – a meio caminho entre criatura e deidade. Irusan tem umha fermosa pelagem de cor preta, com umha parte branca no peito, e a sua presença e toda ela majestosa e poderosa, sentado no trono da sua grande e profunda cova. Um dia, Senchan, o Bardo Mór da Irlanda, burlou-se dele num poema, para depois nunca mais ser visto…
Assim, Irusan aparece como defensor implacável dos seus congéneres felinos e da sua honra, e múltiplas histórias relatam como quando um gato é respeitado este devolve o trato de forma generosa, até protegendo as casas de invisíveis criaturas malignas. Ora bem, se acontece como co gato que convidou a caminhantes partilhar a sua mesa e que tentaram logo roubar-lhe, entom encontrarám só a morte.
Irusan é muito provavelmente o gato conhecido na Escócia como Cat Sìth (Gato do Além), alguém também a ser tratado com precauçom, mas que na noite do Magusto (Samhain) visita as casas na procura de leite, benzendo a quem lhe deixar algum para beber. As lendas do Cat Sìth espalharam depois polo resto da Ilha até entrar a formar parte do folclore popular, conhecido sob o genérico ‘Rei dos Gatos’.
Definitivamente, nom se quer ter o gato como inimigo, pois Cuchulain ou até o mesmíssimo Rei Artur (com Palu) tiveram que lutar contra eles nalgumha altura com grande perigo para as suas vidas.
Contudo, o gato forma parte dos exemplos dos ciclos da vida e morte druídica, como o poder dum meigo ou meiga se transformar em gato até oito vezes, ficando dessa forma definitivamente na novena (alguém lembra o das “nove vidas do gato” na tradiçom celta?); ou a transmutaçom dumha princesa em gato um ano, cisne noutro e, finalmente, em lontra, fechando também um círculo em base três, cumha combinaçom de animais a ser analisada.
Porém, nom é tam estranho que toda esta funda carga simbólica e aparente ambiguidade, somado à pura ignorância médica e intolerância e superstiçom religiosa, derivara numha visom muito negativa deste animal durante a Idade Média e mais alá.
Temos, pois, que retomar esta figura, lembrar a Irusan e o seu calmo orgulho, aprendendo que a acçom é sempre fulminante mas justa, só fruto de agravo ou provocaçom, nunca gratuita ainda que pareça exagerada, e que o respeito tem que ser ganhado. Umha vez feito isto, tudo o bom virá a seguir.
Rematamos cum continho tradicional, o do Gato Negro da galega Branha de Rus 🙂
As águas da Branha de Rus, em Coristanco, eram muito brancas e limpas, até que um dia foi se banhar ali um gato preto, virando as águas dessa mesma cor.
Desde entom chamam-lhe Banhos Negros, pois as águas disque som curativas e muito boas para as feridas.
Há mesmo quem assegura que às vezes podem-se ouvir uns berros que nascem lá no fundo da Branha de Rus, ainda que ninguém sabe com certeza de onde venhem nem de que podem ser…

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