Druidaria

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Esta secçom oferece só umha aproximaçom aos temas tratados. Na capa deste blogue, noutras secçons, redes sociais e nas diversas actividades da IDG vam-se detalhando múltiplos aspectos da Druidaria em geral e da Druidaria Galaica em particular.

Tudo é sagrado e nós somos parte do todo. Partes diminutas mas necessárias para a plenitude da Natureza.

Que é?

A Druidaria (‘Druidismo’) é umha religiom[*] nativa europeia que tem as suas origens nas crenças, ética e forma de vida dos povos celtas.

A primeira referência escrita conhecida de Druidaria remonta-se ao século IV antes da era actual, embora as suas raízes – a chamada Tradiçom Primordial – som muito mais antigas e, consideramos, encontra o seu berce no território da Callaecia (actual Galiza e Norte de Portugal).

Chama-se Druidaria por conformarem os Druidas e Druidesas a caste sacerdotal e intelectual dessa sociedade.
Na antiguidade elas eram as juízes, filósofas, teólogas, por vezes sanadoras e muitas vezes administradoras dos diversos clãs, actuando como autênticos vínculos de uniom e coesom entre todas as comunidades célticas.
Eram figuras de alto prestígio encarregadas da investigaçom, educaçom, resoluçom de litígios e ritos religiosos. Todos os Druidas e Druidesas – e portanto todos os povos célticos – partilhavam umha moral, cosmovisom, celebraçons e sentido da justiça e convivência muito similar, senom idêntico.

Apesar da sua perseguiçom já desde o século I antes da nossa era, a Druidaria continuou latente por séculos em muitos territórios de legado cultural celta camuflada entre outros nomes ou sob os eufemismos de “pré-romano” ou “pagao”, mas perdendo a sua anterior uniformidade e organizaçom. Contudo, e apesar das diversas vicissitudes históricas e quebras na linha de transmissom, houvo umha renascença da Druidaria como tal a partir do século XVIII.

Há diversos achegamentos à Druidaria na actualidade, cada um adaptado à herdança histórica, realidade local ou às necessidades dos respectivos clans.
A Irmandade Druídica Galaica (como é explicado na página sobre a IDG) procura nas expressons religiosas, espirituais, culturais e filosóficas autóctones do velho território galaico os referentes para os seus ritos, práticas, valores e crenças actuais, mas procurando evitar anacronismos com o objectivo de fazer esta crença druídica relevante aos e às Druidistas (crentes) de hoje em dia. A Druidaria, agora, avança cara o futuro.

A visom geral da Tradiçom Druídica Galaica nom difere grande cousa da Druidaria Pan-Céltica e pode-se resumir de forma breve em:

  • Honra e respeito aos Devanceiros e Devanceiras, as pessoas que nos precederam e o seu saber, pois sem eles e elas nem estaríamos aqui nem seríamos quem somos. A IDG defende a história, cultura e memória da Terra e o Povo que a acolhe e sustenta.
  • Honra, respeito e reverência à Natureza, pois esta é um todo que nos agarima e nós somos parte indissociável dela. A IDG é fundamente Panteísta e Ecologista.
  • Aceitaçom da complexidade da realidade desta Natureza, do Cosmos, que esconde ainda aspectos como a transcendência de toda vida, reencarnaçom, conexom universal e presença do todo no particular e o particular no todo. A IDG é Monista.
  • Aceitaçom das diversas manifestaçons desta complexidade, bem de forma simbólica ou real, através de diversos médios, objectos e seres, por via do chamado Imbás ou Awen (inspiraçom) e que normalmente representa-se em forma tripartita. A IDG é Animista.
  • Honra e respeito aos Deuses e Deusas da nossa tradiçom, fruto da Natureza e da sua complexidade, mestres para quem quiser aprender. A IDG é Politeísta.
  • Observância do calendário druídico ou Roda do Ano e atençom aos ensinamentos e recomendaçons dos Druidas e Druidesas (Durvates) reconhecidos. A IDG é umha organizaçom legalmente estabelecida e perfeitamente estruturada, com regras e normas claras e presença pública.

Isto tudo pode ser resumido ainda mais em três premissas básicas:

– Honra os Devanceiros e Devanceiras.
– Reverência a terra e a Natureza.
– Aprende dos Deuses e Deusas.

Para chegarmos a estes pontos nom existem na Druidaria revelaçons ou livros sagrados, apariçons ou milagres, nem pecados, castigos ou salvaçons universais. O agir druídico baseia-se em três eixos fulcrais que som a Responsabilidade, a Honra e o Compromisso, assim como nas experiências e reflexons individuais e colectivas para tentarmos conhecer mais e melhor tudo aquilo que nos rodeia de forma lógica, ordenada e com mentalidade aberta. Isto só constitui já umha liçom e um projeto vital, reconhecendo as nossas limitaçons que som, à vez, um repto a superar.

Por isto, por exemplo, na Druidaria nom se fai proselitismo. Cada ser humano deve chegar às suas conclusons após empreender o seu próprio caminho de descoberta espiritual. Na Druidaria podem-se dar respostas a perguntas de nom-crentes se estas forem formuladas, mas a IDG rejeita qualquer tentativa de conversom. A Druidaria, na sua vertente religiosa, expom e explica a sua opiniom, nom tenta convencer.

Além disto, há umha série de princípios éticos aceitados pola maioria de Druidistas no mundo com estes nomes ou parecidos. Estes som os Nove Compromissos:

Compromisso com a Natureza – Compromisso com a Humanidade – Compromisso com a Paz – Compromisso com as Raízes – Compromisso com a Liberdade – Compromisso com a Independência – Compromisso com a Espiritualidade – Compromisso com o Conhecimento – Compromisso com a Verdade

Estes Nove Compromissos venhem complementados polas Nove Virtudes célticas: Honorabilidade, Justiça, Lealdade, Valentia, Generosidade, Hospitalidade, Humildade, Sabedoria, Eloquência.

A IDG prima o aspecto de responsabilidade e harmonia: A responsabilidade é individual, se bem o caminho solitário deve ser equilibrado com a experiência em Comunidade.
Eis um elemento da focagem druídica galaica: o equilíbrio entre a liberdade da pessoa Druidista e a responsabilidade e compromisso com o Clan; o balanço entre o indivíduo e a sua singularidade e o seu contributo ao conjunto como tal.
O conjunto é melhor com a uniom de pessoas fortes e complementares, gente com ideias próprias e propostas diversas e originais trabalhando ao uníssono, com honor e sentido de finalidade comum.

Como guia prático no nosso dia a dia elaboramos as Nove Regras de Conduta Druídica, ou umhas simples recomendaçons por onde começarmos a fazer do nosso mundo um lugar melhor seguindo umha lógica céltica.

 

O que a Druidaria nom é: Para nós a Druidaria nom é umha simples filosofia, caminho espiritual, estilo de vida ou forma de entender a cultura. É isso tudo, claro, mas é muito mais. É principalmente umha religiom[*] (no sentido mais amplo da palavra), onde a IDG é umha entidade religiosa organizada que eventualmente fai interpretaçons religiosas autónomas.
Nom consideramos o nosso Caminho como sendo o único possível, em absoluto, e respeitamos plenamente as visons doutros grupos ou organizaçons, mas esta aqui e agora é a focagem da IDG.

A Druidaria nom é umha religiom passiva ou contemplativa, nunca o foi, ao estar sempre vencelhada aos interesses e dignidade do seu Povo, da sua Comunidade.
A nossa implicaçom é com a defesa do que consideramos correcto (os Nove Compromissos Druídicos) sempre mediante métodos pacíficos mas activos (através das Nove Virtudes). Valorizamos a atitude de “maos à obra” na melhora do nosso mundo, nom a mera teoria ou debates sem mais transcendência. Assim, consideramos que há umha série de valores e ideias dignas de partilha sem que isso implique proselitismo nem imposiçom de nengum tipo.

É certo que a Druidaria pode resultar algo confusa para quem começa a conhecê-la, pois muitos elementos e conceitos talvez nom sejam tam claros como noutras religions ou sistemas de crenças; podem ser ambíguos, complementares à vez que (aparentemente) contraditórios.
O facto é que a maioria de nós crescemos numha sociedade onde o divino disque é misericordioso, amoroso e que exige aos crentes sujeiçom às suas regras em troca da concessom da sua ajuda e apoio. No entanto, na nossa crença devemos atravessar umha porta que exige sacrifício, demolir paredes velhas para começarmos a entender o que o mundo é e qual é o nosso lugar nele.
Embora as Deidades nos “acariciem” com boa intençom, o seu toque derruba esses muros que nos rodeiam e que nos impedem compreender, e este pode ser um sentimento estranho e até doloroso. Compreendermos-lhes e compreenderem-nos leva tempo, mas depois tudo adquire sentido pleno.

 

Ritos e celebraçons

A IDG celebra diversos ritos passagem e serviços religiosos a petiçom do Clã, mas existe tamém a observância do calendário céltico (Roda do Ano) e as suas festividades. Há quatro datas principais:

  • Magusto (Samhain): 31 Outubro – 1 Novembro. Festa dos Deuses Berobreo, Bandua e da Deusa Cale. Celebraçom do Ano Novo e dos Devanceiros e Devanceiras. Recolhimento, reagrupamento e reflexom.
  • Entroido (Imbolc): 1-2 Fevereiro. Festa da Deusa Brigantia. O triunfo sobre o Inverno e passo cara a Primavera. Esperança e alegria.
  • Maios (Beltaine): 1 Maio. Festa do Deus Bel. A grandiosidade da Natureza na Primavera. Poder, vida e energia.
  • Seitura (Lughnasadh): 1-2 Agosto. Festa do Deus Lugo. O esplendor do Verám, celebraçom das colheitas. Plenitude e acougo, planificaçom e racionalidade.

Podem-se completar estas celebraçons com outras quatro menores nom associadas a Deidades fixas, onde os solstícios som mais relevantes que os equinócios: Solstício de Inverno-Noite Nai (21-22 Dezembro e noite do 24); Equinócio de Primavera-Festa da Alvorada da Terra (21-22 Março); Solstício de Verám-Noite dos Lumes (21-22 Junho e noite do 23); Equinócio de Outono-Festa das Fachas (21-22 Setembro).

Observa-se, ainda, o 25 de Julho como celebraçom popular do Dia da Terra (Dia da Galiza) e algumhas outras datas de carácter histórico ou simbólico (nom religioso) que som lembradas quando chega o momento.

As actividades druídicas nom precisam necessariamente de templos ou construçons similares, pois muitas vezes som realizadas em contornos naturais. Procura-se abeiro ajeitado em caso de condiçons atmosféricas adversas e, ainda assim, tenta-se que haja sempre elementos naturais presentes.
Existiam e existem na Europa templos druídicos, mas estes som lugares de reuniom no estilo do indicado anteriormente: locais para facilitarem a juntança do Clã dependendo das condiçons, necessidades e logística do momento. Havia e há, de facto, diversidade nas formas e tamanhos. A IDG nom dispom (ainda) dum templo, sede ou local de acesso público, mas trabalha-se nisso com um bocado de ajuda…

– – –

[*] O conceito actual de “religiom” é umha mera construçom ocidental que começa no século XVII e acaba de tomar forma só no século XIX no ronsel do supremacismo cristao, mas é umha palavra que hoje em dia, nestes contextos nos que falamos, toda a gente percebe como algo minimamente organizado e com vocaçom de continuidade, e organicamente isso é o que é a IDG.

Porque a verdadeira tradiçom nom emana do passado, nem está no presente, nem se alvisca no porvir; nom é serva do tempo.

A tradiçom é a alma eterna da Galiza, que vive no instinto popular e nas entranhas graníticas do nosso chao.

A tradiçom nom é a historia. A tradiçom é a eternidade.

A.D.R. Castelao (1944)

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24 thoughts on “Druidaria

  1. teño unha pequena duvida…teño entendido que os druidas eran os xefes (,non sei si esa e apalabra adecuada )mais por ahi escoitei estos dias que so andaban de paso ,que viaxaban de dosu en dous ,ou de sete en sete,e que estaban de paso nas aldeas…tamen escoitei que aca na galiza non hay nada celta que de feito aca apenas chagaron ….mais eu estudiei que eles eran os sacerdotes…pasaban a sua sabiduria de palabra,posto que creian que escribindo perdia poder,,,,cousa que eu personalmente sigo crendo ,a palabra tenpoder ,a letra perdeo…teño asi unhas dudas …porque eu como o meu camiño o fixen soa…moitas veces tieven que escoitar ,que estaba tola.

    1. Olá Mar. Tomamos a licença de colocar a tua pergunta, e responde-la, num serviço específico de perguntas e respostas que temos habilitado. Podes encontrá-lo em:
      http://ask.fm/Durvate/answer/132751155961
      e, claro está, podes formular lá toda classe de perguntas directas 🙂
      PD. Sobre o velho tema de que “na Galiza não há nada celta”… é realmente algo tão longo de aclarar que só podemos resumir em: a Galiza não só era “celta”, senão que era um foco emissor de cultura celta, fundamental para o desenvolvimento da Europa Atlântica. Com total certeza.

  2. Caros Irmãos da Galícia. Tenho acompanhado a algum tempo o desenvolvimento da IDG. Como meus avós vieram da região da antiga Galícia (Lemos e Castro), tenho um fascínio especial pela IDG. Entre os sites da tradição primordial, com luz celta é a que mais me fascina pelo seu conteúdo consistente e coerente, em especial no tocante a Druidaria. Com certeza outros existem, como a ATDL, Celtic Druid Temple, Caldeirão dos Druidas e a nossa Assembleia Druídica Brasiliana. Por vezes tenho sentido vontade de adaptar a linguagem ao falado no Brasil e publicar em meus espaços nas mídias e usa-los como material de estudo no grupo que participo. Gostaria de saber se é possível publicar e utiliza-los nos nossos estudos e reuniões?

    1. Caro António,
      Obrigad*s pelas suas palavras 🙂
      Pois é claro que pode usar os nossos materiais! Tudo o publicado é oferecido para uso público. Quer dizer, tudo aquilo que aparece no nosso web e perfis sociais oficiais (facebook e twitter) encontra-se sob uma licença “Creative Commons” pela qual é possível partilhar sempre e quando o material seja atribuído (seja citada a fonte), não seja modificado no essencial e não seja nunca usado com fins comerciais, diretos ou indiretos. Além disso… força!
      Mais informações em: https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/deed.pt
      Para qualquer dúvida ou questão estamos disponíveis também no correio-e idg@durvate.org
      Abraço.
      IDG

      1. Obrigado Milesio, pela presteza. Respeitarei, com certeza todas as exigências.

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