Acouga Brigantia, salta a lebre. É a Alvorada da Terra

O animal desta época, a Lebre, nom o é por casualidade. Símbolo de fertilidade, é a encarregada de cuidar do ovo (fruto do ventre – i mbolg) pois Brigantia começa já a ficar cansa… Foto: C. Galliani.

Este ano é na noite do 20 de Março quando o Sol deterá-se e tomará fôlegos por um intre na sua viagem enquanto equilibra luzes e trevas. Às 22:24 (norte do Minho; 21:24 no sul) tem lugar o Equinócio de Primavera, quando depois de finalmente alcançar à escuridade o dia dura tanto como a noite.

É o que muitos e muitas denominam Alban Eilir, “A Luz da Terra”, Mean Earraigh, “Meia Primavera”, ou Alban Talamonos, “O Amencer da Terra”; Ostara nos cultos germânicos e wiccanos, o início do ano astrológico para outros.

Nós chamamos-lhe A (Festa da) Alvorada da Terra e é um dos quatro  eventos astronómicos que intercalam as grandes celebraçons religiosas da Roda do Ano , é dizer, o ciclo completo das oito celebraçons da Druidaria combinando quatro maiores (religiosas, com começo no Magusto, em Novembro) e quatro menores (astronómicas: solstícios e equinócios).

Continuamos assim o caminho indicado no Entroido (Imbolc). Vai resultando evidente que a chegada dos Maios (Beltaine) e imparável. A Natureza cumpre os seus ciclos mais umha vez, por muito que haja quem teime em ignorá-la e daná-la. Por fim vai agromando a vida por toda parte; é óbvio e palpável.

Pensemos tamém em que, além dos problemas humanos (sempre temporários), a luz e os primeiros verdes e flores nom enganam. Activa-se a fertilidade e maravilhamo-nos de como a planta sabe quando tem que medrar, quando tem que sair do ovo protegido por umha lebre, simbolismo do que significavam os frutos “no ventre” (i mbolg) da Deusa Brigantia, que nom parou de sorrir desde o Entroido.

Renovam-se desta forma as intençons desse Entroido: continua a preparaçom, cuidado e sementado da terra, mas esta já reverdece. Pode-se pôr outra vez a casa em ordem e continuarmos a limpeza, tamém interior, porque com esta luz podemos ver melhor todo recanto escuro, em toda parte, e nom deixarmos nada sem arranjar.

Bom Equinócio de Primavera entom. Recebide a acougante Alban Eilir num agarimoso abraço. Empregade bem o tempo da Mean Earraigh. Espreguiçade-vos com o Alban Talamonos. Acordade com a terra que recebe a sua Alvorada. Luz de carqueixa!

<< Dim que nom falam as plantas, nem as fontes, nem os pássaros,
nem a onda co’s seus rumores, nem c’o seu brilho os astros,
di-no, mas nom é certo, pois sempre quando eu passo,
de mim murmuram exclamam:
Aí vai a tola sonhando
co’a eterna primavera da vida e dos campos
e já bem cedo, bem cedo, terá os cabelos canos,
e vê tremendo, aterecida, que cobre a giada o prado.

Hai brancas na minha cabeça, hai nos prados giada,
mas eu prossigo sonhando, pobre, incurável sonâmbula
co’a eterna primavera da vida que se apaga
e a perene frescura dos campos e as almas,
ainda que os uns esgotam-se e ainda que as outras abrasam.

Astros e fontes e flores, nom murmuredes dos meus sonhos,
sem eles, como admirar-vos nem como viver sem eles? >>

(Rosalia de Castro, 1884)

pagan_easter

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Ardem os fachós: Lume no equinócio de Outono

Arde facha, que é a tua hora.

Como na Primavera, chega amanhá um novo equilíbrio perfeito entre dia e noite, entre luz e escuridade, ainda que desta vez marca-se o lento trânsito cara a metade escura do ano (fica perto o passo de Samos a Giamos).

O evento astronómico como tal (ligeiramente mutável cada ano) dá-se desta vez o dia 23 de Setembro às 3:04 na Galécia norte (norte do rio Minho), 02:04 na Galécia sul.

É o Mabon, o Alban Elfed, a Noite do Caçador (quando o Sol é finalmente alcançado antes dum novo renascer), o Lar da Colheita. Em definitiva, o Equinócio de Outono: mais um passo na Roda do Ano marcando umha das festividades menores da Druidaria.

Após a grande celebraçom da plenitude da colheita na Seitura (Lugnasad), revisa-se agora a finalizaçom dessa colheita farturenta, festeja-se o seu cuidado armazenamento para esta nova jeira que pode ser longa e dura, mas que encaramos com optimismo e gratitude polo já conquistado e tudo o bom acumulado. Estamos prestes, pois, a caminhar cara o ano novo que há chegar na festa do Magusto (Samain) em poucas semanas.

Talvez antecipando a chegada dessa grande noite, a tradiçom galaica celebra este equinócio com o lume da chamada Festa das Fachas (ou Queima dos Fachós), outrora popular em todo o País e que oxalá pudera voltar sê-lo. Assim, desde há milénios pega-se fogo a uns fachos de pôla de castinheiro contra a meia noite, enquanto soa a gaita e prepara-se a comida e a bebida, como em toda boa celebraçom galega.

Com esta despedida, Lugo cai e começa o seu descanso, e nós acougamos com ele. Cale fica avisada. A Cale antes fisicamente esplendorosa declina aparentemente em aspecto, mas oferece graças à sua crescente experiência o seu sábio conselho a quem saber perguntar. Ela será agora quem nos aconchegue do seu próprio frio, vento, neve e chuvas. A aparência de vigor era nela um velo cobrindo o fragor da sua temporária juventude. Mas agora muda, agora toma lentamente o seu poder real.

Atençom, isso sim, pois é tamém época de juízos e recapitulaçons. Temos que estar preparados e preparadas de agora endiante para aturar os dias frios e as verdades que serám desveladas no Magusto através das mensagens dos nossos seres queridos. É na escuridade quando melhor se pode albiscar a luz.

Celebremos entom a previsom feita no passado para o goze do presente e a confiança no futuro.

Vem onde nós o Outono

Dacavalo do ar;

nos caminhos da fraga

os ouriços já abrem.

Sinto-o chegar contente

da eterna viagem

enredando entre as folhas

estreando friagem

(A.M. Fdes.)

Um dragom flamejante na noite galega? Tudo correcto!

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Salta a lebre, acouga Brigantia. É a Alvorada da Terra

O animal desta época, a Lebre, nom o é por casualidade. Símbolo de fertilidade, é a encarregada de cuidar do ovo (fruto do ventre – i mbolg) pois Brigantia começa já a ficar cansa… Foto: C. Galliani.

Este ano é na tarde do 20 de Março quando o Sol deterá-se e tomará fôlegos por um intre na sua viagem enquanto equilibra luzes e trevas. Às 16:33 (norte do Minho; 15:33 no sul) tem lugar o Equinócio de Primavera, quando depois de finalmente alcançar à escuridade o dia dura tanto como a noite.

É o que muitos e muitas denominam Alban Eilir, “A Luz da Terra”, Mean Earraigh, “Meia Primavera”, ou Alban Talamonos, “O Amencer da Terra”; Ostara nos cultos germânicos e wiccanos, o início do ano astrológico para outros.

Nós chamamos-lhe A (Festa da) Alvorada da Terra e é um dos quatro  eventos astronómicos que intercalam as grandes celebraçons religiosas da Roda do Ano , é dizer, o ciclo completo das oito celebraçons da Druidaria combinando quatro maiores (religiosas, com começo no Magusto, em Novembro) e quatro menores (astronómicas: solstícios e equinócios).

Continuamos assim o caminho indicado no Entroido (Imbolc). Vai resultando evidente que a chegada dos Maios (Beltaine) e imparável. A Natureza cumpre os seus ciclos mais umha vez, por muito que haja quem teime em ignorá-la e daná-la. Por fim vai agromando a vida por toda parte; é óbvio e palpável.

Pensemos tamém em que, além dos problemas humanos (sempre temporários), a luz e os primeiros verdes e flores nom enganam. Activa-se a fertilidade e maravilhamo-nos de como a planta sabe quando tem que medrar, quando tem que sair do ovo protegido por umha lebre, simbolismo do que significavam os frutos “no ventre” (i mbolg) da Deusa Brigantia, que nom parou de sorrir desde o Entroido.

Renovam-se desta forma as intençons desse Entroido: continua a preparaçom, cuidado e sementado da terra, mas esta já reverdece. Pode-se pôr outra vez a casa em ordem e continuarmos a limpeza, tamém interior, porque com esta luz podemos ver melhor todo recanto escuro, em toda parte, e nom deixarmos nada sem arranjar.

Bom Equinócio de Primavera entom. Recebide a acougante Alban Eilir num agarimoso abraço. Empregade bem o tempo da Mean Earraigh. Espreguiçade-vos com o Alban Talamonos. Acordade com a terra que recebe a sua Alvorada. Luz de carqueixa!

<< Dim que nom falam as plantas, nem as fontes, nem os pássaros,
nem a onda co’s seus rumores, nem c’o seu brilho os astros,
di-no, mas nom é certo, pois sempre quando eu passo,
de mim murmuram exclamam:
Aí vai a tola sonhando
co’a eterna primavera da vida e dos campos
e já bem cedo, bem cedo, terá os cabelos canos,
e vê tremendo, aterecida, que cobre a giada o prado.

Hai brancas na minha cabeça, hai nos prados giada,
mas eu prossigo sonhando, pobre, incurável sonâmbula
co’a eterna primavera da vida que se apaga
e a perene frescura dos campos e as almas,
ainda que os uns esgotam-se e ainda que as outras abrasam.

Astros e fontes e flores, nom murmuredes dos meus sonhos,
sem eles, como admirar-vos nem como viver sem eles? >>

(Rosalia de Castro, 1884)

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