Salta a lebre, descansa Brigantia: é a Alvorada da Terra

O animal desta época, a Lebre, nom o é por casualidade. Símbolo de fertilidade, é a encarregada de cuidar do ovo (fruto do ventre – i mbolg) pois Brigantia começa já a ficar cansa… Foto: C. Galliani.

Esta tarde o Sol detém-se sobre as nossas cabeças, toma fôlegos por um intre na sua viagem enquanto equilibra luzes e trevas. Às 16:15 (norte do Minho; 15:15 no sul) tem lugar o Equinócio de Primavera, quando depois de finalmente alcançar à escuridom na sua corrida, o dia dura tanto como a noite.

É o que muitos e muitas denominam Alban Eilir, “A Luz da Terra”, Mean Earraigh, “Meia Primavera”, ou Alban Talamonos, “O Amencer da Terra”; Ostara nos cultos germânicos e wiccanos, o início do ano astrológico para outros.

Nos chamamos-lhe A (Festa da) Alvorada da Terra e é um dos quatro  eventos astronómicos que intercalam as quatro grandes celebraçons religiosas da Roda do Ano , é dizer, o ciclo completo das oito grandes celebraçons da Druidaria combinando quatro maiores (religiosas, com começo no Magusto, em Novembro) e quatro menores (astronómicas: solstícios e equinócios).

Continuamos assim o caminho indicado no Entroido (Imbolc). Vai resultando evidente que a chegada dos Maios (Beltaine) e imparável. A Natureza cumpre os seus ciclos mais umha vez, por muito que haja quem teime em ignorá-la e daná-la. Por fim vai agromando a vida por toda parte; é óbvio e palpável. Apesar do frio que perdura, a luz e os primeiros verdes e flores nom enganam. Activa-se a fertilidade e maravilhamo-nos de como a planta sabe quando tem que medrar, quando tem que sair do ovo protegido por uma lebre, simbolismo do que significavam os frutos “no ventre” (i mbolg) da Deusa Brigantia, que nom parou de sorrir desde o Entroido.

Renovam-se desta forma as intençons do Entroido: continua a preparaçom, cuidado e sementado da terra, mas esta já reverdesce. Pode-se pôr outra vez a casa em ordem e continuarmos a limpeza, tamém interior, porque com esta luz podemos ver melhor todo recanto escuro, em toda parte, e nom deixarmos nada sem arranjar.

Bom Equinócio de Primavera entom. Recebide a acougante Alban Eilir num agarimoso abraço. Empregade bem o tempo da Mean Earraigh. Espreguiçade-vos com o Alban Talamonos. Acordade com a terra que recebe a sua Alvorada.

 

Dim que nom falam as plantas, nem as fontes, nem os pássaros,

nem a onda cos seus rumores, nem co seu brilho os astros,

di-no, mas nom é certo, pois sempre quando eu passo,

de mim murmuram exclamam:

Aí vai a tola sonhando

coa eterna primavera da vida e dos campos

e já bem cedo, bem cedo, terá os cabelos canos,

e vê tremendo, aterecida, que cobre a giada o prado.

 

Hai brancas na minha cabeça, hai nos prados giada,

mas eu prossigo sonhando, pobre, incurável sonâmbula

coa eterna primavera da vida que se apaga

e a perene frescura dos campos e as almas,

ainda que os uns esgotam-se e ainda que as outras abrasam.

 

Astros e fontes e flores, nom murmuredes dos meus sonhos,

sem eles, como admirar-vos nem como viver sem eles?

(Rosalia de Castro, 1884)

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