Noite Nai, noite de luz

 

O Apalpador, a tradicional figura do gigante carvoeiro que cuida das crianças e traz presentes para todos e todas. Mas lembrade: os animais NOM som presentes, nunca “regalades” animais!

Em breve passaremos o Solstício de Inverno (às 22:48 hora oficial galega da quarta dia 21) e com ele ficaremos a um nada da Noite Nai. Eis umha das festividades menores contempladas na Roda do Ano da Druidaria e que incluem solstícios e equinócios, à parte das quatro grandes celebraçons religiosas.

Como tantas cousas aparentemente paradoxais na nossa cultura, continua o frio justo quando a luz do Sol quer fazer o caminho de volta. Aparentemente paradoxais, claro, mas só para quem nom repara nos pequenos detalhes e na maravilha da Natureza.

Mais umha vez, demonstra-se que nom há súbitos finais nem mais confusom da que nós queiramos criar. Antes o contrário, nos rigores do Inverno, na noite mais longa e o dia mais curto, reparamos em que a partir de agora a luz só pode triunfar (embora ainda tenhamos que sobreviver qualquer possível perigo ou adversidade).

Parece que o tempo voara desde o Magusto e já queremos alviscar o brilho do Deus Bel nas folhas de acivro e sagrado visco branco, que ainda que está algo longe começou já decidido o seu caminho de retorno da mao da Deusa Brigantia. Ela sim terá muito trabalho em breve…

Aliás, outras tradiçons druídicas celebram esta noite mais longa do ano como sinal do eventual regresso de Bel e ainda de Lugus através de Brigantia, simbolizando a sobrevivência sobre as trevas e lenta chegada da luz. É o enraizamento e gestaçom durante três dias (21+3) do Infante Sol a partir do Ventre Materno, a escuridade da Deusa Anu (Dana ou Danu na Irlanda, Dôn em Gales).

Som as datas da Modranecht ou Matronucta (a Noite Nai), tamém do Meán Geimhridh (‘Meio Inverno’) e Lá an Dreoilín (‘Dia da Carriça’), o dia no que em Éire este pássaro é “preso”, guardado e depois ceivado como sinal de continuidade, da passagem definitiva do ano anterior, pois canta sem parar tanto no verám como no inverno sem interrupçom. Isto era algo que tamém se fazia na Lourençá, na comarca da Marinha, mas uns dias mais tarde.
A Roda gira, a vida continua, os ciclos nom param.

Nestas datas na IDG honramos aos grandes Deus Larouco (o An Dagda irlandês), Deusa Anu (ambas Deidades primeiras e essenciais) e a sua descendente, a Deusa Brigantia.

Seja dito, já que estamos, que trânsitos como o Solstício de Inverno som momentos de extrema importância na tradiçom germânica (festividade de Yule) e nas crenças Wicca, mesmo no calendário chinês (o Dong Zhi ou “chegada do Inverno”) entre outras no mundo. Na Europa outras religions tamém empregarom e adaptarom a posteriori estas datas como marca do trânsito cara a um período de maior esplendor.

Arredor destas datas os e as Caminhantes podemos nos reunir com a nossa gente, família ou Clan (incluídos os que foram para o Além), na confiança de que o futuro sempre há acabar por destruir os gelos da fria temporada.

O Solstício astronómico é em nada, mas as celebraçons continuam. É a época do Apalpador, o gigante da tradiçom galega que virá trazer alegria e diversom às crianças. Queima-se o facho e manifesta-se a Coca numha piscadela cúmplice, deixando-se comer em forma de doce. Adornamos e alumeamos as nossas casas, magnificando o brilho da nova luz à que ajudamos a renascer.

Bom Solstício de Inverno sob a protecçom do visco e o acivro. Que corra a raposa e que cante a carriça! 🙂

“Meses do inverno frios
que eu amo a todo amar,
meses dos fartos rios
e o doce amor do lar.
Meses das tempestades,
metáforas da dor
que aflige as mocidades
e as vidas corta em flor.
Chegade, e trás o outono
que as folhas fai chover,
nelas deixade que o sono
eu durma do nom-ser.
E quando o sol formoso
de abril torne a sorrir,
que alumee o meu repouso,
já nom meu me afligir.”

(Rosalia de Castro, Folhas Novas, 1880).

As montanhas do Courel, desde onde desce o Apalpador (tamém chamado Pandigueiro) cada Inverno com os seus presentes e castanhas.

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Magusto: a maior festa e o Ano Novo

Honra à Casa Florinda (agora encerrada) que durante tantos anos sempre tam bem e tam generosamente nos acolheu.

Na mágica noite do 31 de Outubro ao 1 de Novembro inauguramos o Ano Novo celta. Nesse trânsito é já popular celebrar umha festividade eminentemente Druídica em muitas partes do mundo, a mais especial de todas.

Bem-vindos e bem-vindas à Noite de Magusto e o seu cheiro a castanha assada, dos sorridentes Calacús, dos Defuntos que nos falam, do gaélico Samhain (pronunciado ‘sáu-in’) ou mesmo de Halloween, para que toda a gente entenda 🎃
Afinal, som diferentes nomes para a mesma cousa, e isso é o que importa.

Pois é, como todas as épocas festivas do nosso calendário estas som, precisamente, épocas: tempos mais ou menos longos de entrada e saída, embora marquemos tal ou qual dia específico como relevante ou simbólico.
Assim acontece tamém com diferentes variantes e nomes vítima das vicissitudes históricas em cada lugar; mas indo à raiz do significado das cousas observamos como é agora quando partilhamos na Céltia toda um mesmo sentimento de finalizaçom e preparaçom para o recomeço, de honra aos ausentes, de acougo perante a fria noite, de magia plena num arrepio de emoçom entre respeito e festa.

Esta é a noite quando levantam por um tempo as névoas dos outeiros do Além (Sídhe) para podermos finalmente comunicar sem eivas com os que nom estám. É o intre que marca o fim do ano e o começo dum novo, celebrando-se com umha grande festa onde partilhamos risos, alegria e comida com os nossos Devanceiros e Devanceiras. Som, em definitiva, os momentos mais importantes do ano para quem caminha os vieiros da Druidaria.

A Roda do Ano completa umha volta inteira, marcando já sem dúvidas a entrada cara o Inverno. Adeus Samos, olá Giamos. É o muito merecido descanso da Terra e a satisfaçom de termos nom só superado mais um ano, senom de estarmos celebrando em comunidade a boa disposiçom e coragem para seja o que for vem a seguir, sem importar o rigor da estaçom.

As nossas Deidades entram em acçom: Deixemos pois que Bandua tome as suas chaves e abra as cancelas do Além, deixando passo a Berobreo e os seus. Longe já do esplendor da luz de Lugus (que morre e dorme placidamente guardado polo mesmo Bandua) ou da regeneraçom de Brigantia e posterior apoteose de Bel, é agora decididamente a quenda da Cale (Cailleach) senhora da nossa Terra – completando nom só o ciclo de celebraçons e Deidades do nosso calendário sagrado, senom tamém o seu próprio.
A Deusa Cale nom olha mais desde um canto, mas sim adquire o protagonismo quando, precisamente, deixa de ser nova e linda, quando chega ao seu aparente fim e vira velha e sábia. Será ela, a senhora da noite, quem facilite o trânsito entre o Aquém e o Além junto de Bandua e Berobreo; será ela quem tome conta das bestas por umha temporada; será ela a que de repente cessará de lembrar-nos a perda que pode supor o passo do tempo para fazer ver que em verdade o que havia era construçom, mudança, avanço, com o exemplo da sua própria e pessoal regeneraçom.
Esta Moura primigénia trabalha agora a Terra com o seu sacho até passado o próximo solstício. E com tanta trabalheira haverá quem pense que está a destroçar, mas realmente remexe o necessário para sementarmos quando chegue a nossa vez. Deixará por umha ocasiom de rosmar para estender o seu saio aconchegante sobre o Cosmos todo.

Estes dias a Galiza está em festa. Nom há cidade, vila ou aldeia que nom festeje e honre as suas Devanceiras e Devanceiros. Nom há recuncho do País que nom cheire a castanha assada (alimento favorito no Além) e a gente pense no Magusto. Nom há lugar onde nom fique acesa umha candeia. Nom há crianças que nom sintam que é noite de troula e muitas que queiram ir “pedir o pam” (O Migalho) polas portas. Nom há janela sem calacú, as “cabeças cortadas” que protegem o lar. Trespassam-se limiares, assim que ninguém esqueça deixar a sua oferenda na porta da casa para Irusan e os seus, e tomar um chisco de pam ao cruzá-la para fora.

Hoje seica para-se o tempo. O mar entre mundos vira regato, quase ao alcance da simples vista. Ficamos logo nas maos da Cale, na companhia dos amigos corvo e gato e baixo o abeiro do teixo, aconchegando-nos ao pé do purificador lume faladoiro do novo ano.

É tempo de Druidaria. Mais do que nunca esta é a nossa festa rachada 🥳

Feliz Magusto! Bom Ano Novo Celta (3895) a todos e a todas! 🙂

Ps. Este ano a celebraçom da IDG será estritamente interna e privada.

Comida de Magusto. Deixade castanhas e leite nas portas e nos cruzamentos. Haverá quem os aproveite bem...
Comida de Magusto. Deixade castanhas e bebida nas portas e nos cruzamentos. Haverá quem os aproveite bem e guardem esses lugares por nós… Mas cuidado, esta noite é precisamente o único momento quando nom se podem apanhar as castanhas!

Convidamos à atenta leitura desde artigo, muito detalhado e bem documentado, e ainda deste outro, explicando e exemplificando como esta celebraçom continua viva em múltiplas e variadas formas, mas sempre com o mesmo sentimento profundamente druídico. Ainda, para quem poida ler em inglês, um texto explicando o relacionamento entre Magusto-SamhainHalloween. Disponibilizamos, aliás, um recurso educativo para gente moça.

[in English] Magusto, Samhain, Halloween… different names for the same celebration which begins with the first scent of roasted chestnuts.

On the ‘Night of the Pumpkins’ or ‘Night of the Dead’ (October 31st – 1st November), as we call it in Galicia, an ancient Celtic festival is observed around the world.

Despite the twists and turns of history, we know well that this is a magical time – the most important of the year – as we celebrate the end of a cycle with a grand feast, cherishing the memory of the Ancestors, all those to whom we owe living as we live, knowing what we know, being who we are.

So get ready for winter! Now that the barns are full and we are certain that we’ll spend the cold season in good company. Let the Land gather renewed strenght, for the next thing will be the return of light and Spring.

Have a nice one and Happy New Celtic Year!

Click here to read more about the Magusto/Samhain/Halloween in English, or >here< to know more about the IDG.

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Volta a luz para a Noite Nai

O Apalpador, a tradicional figura do gigante carvoeiro que cuida das crianças e traz presentes para todos e todas. Mas lembrade: os animais NOM som presentes, nunca “regalades” animais!

Em breve passaremos o Solstício de Inverno (às 16:59 hora oficial galega da terça dia 21) e com ele ficaremos a um nada da Noite Nai. Eis umha das festividades menores contempladas na Roda do Ano da Druidaria e que incluem solstícios e equinócios, à parte das quatro grandes celebraçons religiosas.

Como tantas cousas aparentemente paradoxais na nossa cultura, continua o frio justo quando a luz do Sol quer fazer o caminho de volta. Aparentemente paradoxais, claro, mas só para quem nom repara nos pequenos detalhes e na maravilha da Natureza.

Mais umha vez, demonstra-se que nom há súbitos finais nem mais confusom da que nós queiramos criar. Antes o contrário, nos rigores do Inverno, na noite mais longa e o dia mais curto, reparamos em que a partir de agora a luz só pode triunfar (embora ainda tenhamos que sobreviver qualquer possível perigo ou adversidade).

Parece que o tempo voara desde o Magusto e já queremos alviscar o brilho do Deus Bel nas folhas de acivro e sagrado visco branco, que ainda que está algo longe começou já decidido o seu caminho de retorno da mao da Deusa Brigantia. Ela sim terá muito trabalho em breve…

Aliás, outras tradiçons druídicas celebram esta noite mais longa do ano como sinal do eventual regresso de Bel e ainda de Lugus através de Brigantia, simbolizando a sobrevivência sobre as trevas e lenta chegada da luz. É o enraizamento e gestaçom durante três dias (21+3) do Infante Sol a partir do Ventre Materno, a escuridade da Deusa Anu (Dana ou Danu na Irlanda, Dôn em Gales).

Som as datas da Modranecht ou Matronucta (a Noite Nai), tamém do Meán Geimhridh (‘Meio Inverno’) e Lá an Dreoilín (‘Dia da Carriça’), o dia no que em Éire este pássaro é “preso”, guardado e depois ceivado como sinal de continuidade, da passagem definitiva do ano anterior, pois canta sem parar tanto no verám como no inverno sem interrupçom. Isto era algo que tamém se fazia na Lourençá, na comarca da Marinha, mas uns dias mais tarde.
A Roda gira, a vida continua, os ciclos nom param.

Nestas datas na IDG honramos aos grandes Deus Larouco (o An Dagda irlandês), Deusa Anu (ambas Deidades primeiras e essenciais) e a sua descendente, a Deusa Brigantia.

Seja dito, já que estamos, que trânsitos como o Solstício de Inverno som momentos de extrema importância na tradiçom germânica (festividade de Yule) e nas crenças Wicca, mesmo no calendário chinês (o Dong Zhi ou “chegada do Inverno”) entre outras no mundo. Na Europa outras religions tamém empregarom e adaptarom a posteriori estas datas como marca do trânsito cara a um período de maior esplendor.

Arredor destas datas os e as Caminhantes podemos nos reunir com a nossa gente, família ou Clan (incluídos os que foram para o Além), na confiança de que o futuro sempre há acabar por destruir os gelos da fria temporada.

O Solstício astronómico é em nada, mas as celebraçons continuam. É a época do Apalpador, o gigante da tradiçom galega que virá trazer alegria e diversom às crianças. Queima-se o facho e manifesta-se a Coca numha piscadela cúmplice, deixando-se comer em forma de doce. Adornamos e alumeamos as nossas casas, magnificando o brilho da nova luz à que ajudamos a renascer.

Bom Solstício de Inverno sob a protecçom do visco e o acivro. Que corra a raposa e que cante a carriça! 🙂

“Meses do inverno frios
que eu amo a todo amar,
meses dos fartos rios
e o doce amor do lar.
Meses das tempestades,
metáforas da dor
que aflige as mocidades
e as vidas corta em flor.
Chegade, e trás o outono
que as folhas fai chover,
nelas deixade que o sono
eu durma do nom-ser.
E quando o sol formoso
de abril torne a sorrir,
que alumee o meu repouso,
já nom meu me afligir.”

(Rosalia de Castro, Folhas Novas, 1880).

As montanhas do Courel, desde onde desce o Apalpador (tamém chamado Pandigueiro) cada Inverno com os seus presentes e castanhas.

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