Magusto: a maior festa e o Ano Novo

Honra à Casa Florinda (agora encerrada) que durante tantos anos sempre tam bem e tam generosamente nos acolheu.

Na mágica noite do 31 de Outubro ao 1 de Novembro inauguramos o Ano Novo celta. Nesse trânsito é já popular celebrar umha festividade eminentemente Druídica em muitas partes do mundo, a mais especial de todas.

Bem-vindos e bem-vindas à Noite de Magusto e o seu cheiro a castanha assada, dos sorridentes Calacús, dos Defuntos que nos falam, do gaélico Samhain (pronunciado ‘sáu-in’) ou mesmo de Halloween, para que toda a gente entenda 🎃
Afinal, som diferentes nomes para a mesma cousa, e isso é o que importa.

Pois é, como todas as épocas festivas do nosso calendário estas som, precisamente, épocas: tempos mais ou menos longos de entrada e saída, embora marquemos tal ou qual dia específico como relevante ou simbólico.
Assim acontece tamém com diferentes variantes e nomes vítima das vicissitudes históricas em cada lugar; mas indo à raiz do significado das cousas observamos como é agora quando partilhamos na Céltia toda um mesmo sentimento de finalizaçom e preparaçom para o recomeço, de honra aos ausentes, de acougo perante a fria noite, de magia plena num arrepio de emoçom entre respeito e festa.

Esta é a noite quando levantam por um tempo as névoas dos outeiros do Além (Sídhe) para podermos finalmente comunicar sem eivas com os que nom estám. É o intre que marca o fim do ano e o começo dum novo, celebrando-se com umha grande festa onde partilhamos risos, alegria e comida com os nossos Devanceiros e Devanceiras. Som, em definitiva, os momentos mais importantes do ano para quem caminha os vieiros da Druidaria.

A Roda do Ano completa umha volta inteira, marcando já sem dúvidas a entrada cara o Inverno. Adeus Samos, olá Giamos. É o muito merecido descanso da Terra e a satisfaçom de termos nom só superado mais um ano, senom de estarmos celebrando em comunidade a boa disposiçom e coragem para seja o que for vem a seguir, sem importar o rigor da estaçom.

As nossas Deidades entram em acçom: Deixemos pois que Bandua tome as suas chaves e abra as cancelas do Além, deixando passo a Berobreo e os seus. Longe já do esplendor da luz de Lugus (que morre e dorme placidamente guardado polo mesmo Bandua) ou da regeneraçom de Brigantia e posterior apoteose de Bel, é agora decididamente a quenda da Cale (Cailleach) senhora da nossa Terra – completando nom só o ciclo de celebraçons e Deidades do nosso calendário sagrado, senom tamém o seu próprio.
A Deusa Cale nom olha mais desde um canto, mas sim adquire o protagonismo quando, precisamente, deixa de ser nova e linda, quando chega ao seu aparente fim e vira velha e sábia. Será ela, a senhora da noite, quem facilite o trânsito entre o Aquém e o Além junto de Bandua e Berobreo; será ela quem tome conta das bestas por umha temporada; será ela a que de repente cessará de lembrar-nos a perda que pode supor o passo do tempo para fazer ver que em verdade o que havia era construçom, mudança, avanço, com o exemplo da sua própria e pessoal regeneraçom.
Esta Moura primigénia trabalha agora a Terra com o seu sacho até passado o próximo solstício. E com tanta trabalheira haverá quem pense que está a destroçar, mas realmente remexe o necessário para sementarmos quando chegue a nossa vez. Deixará por umha ocasiom de rosmar para estender o seu saio aconchegante sobre o Cosmos todo.

Estes dias a Galiza está em festa. Nom há cidade, vila ou aldeia que nom festeje e honre as suas Devanceiras e Devanceiros. Nom há recuncho do País que nom cheire a castanha assada (alimento favorito no Além) e a gente pense no Magusto. Nom há lugar onde nom fique acesa umha candeia. Nom há crianças que nom sintam que é noite de troula e muitas que queiram ir “pedir o pam” (O Migalho) polas portas. Nom há janela sem calacú, as “cabeças cortadas” que protegem o lar. Trespassam-se limiares, assim que ninguém esqueça deixar a sua oferenda na porta da casa para Irusan e os seus, e tomar um chisco de pam ao cruzá-la para fora.

Hoje seica para-se o tempo. O mar entre mundos vira regato, quase ao alcance da simples vista. Ficamos logo nas maos da Cale, na companhia dos amigos corvo e gato e baixo o abeiro do teixo, aconchegando-nos ao pé do purificador lume faladoiro do novo ano.

É tempo de Druidaria. Mais do que nunca esta é a nossa festa rachada 🥳

Feliz Magusto! Bom Ano Novo Celta (3895) a todos e a todas! 🙂

Ps. Este ano a celebraçom da IDG será estritamente interna e privada.

Comida de Magusto. Deixade castanhas e leite nas portas e nos cruzamentos. Haverá quem os aproveite bem...
Comida de Magusto. Deixade castanhas e bebida nas portas e nos cruzamentos. Haverá quem os aproveite bem e guardem esses lugares por nós… Mas cuidado, esta noite é precisamente o único momento quando nom se podem apanhar as castanhas!

Convidamos à atenta leitura desde artigo, muito detalhado e bem documentado, e ainda deste outro, explicando e exemplificando como esta celebraçom continua viva em múltiplas e variadas formas, mas sempre com o mesmo sentimento profundamente druídico. Ainda, para quem poida ler em inglês, um texto explicando o relacionamento entre Magusto-SamhainHalloween. Disponibilizamos, aliás, um recurso educativo para gente moça.

[in English] Magusto, Samhain, Halloween… different names for the same celebration which begins with the first scent of roasted chestnuts.

On the ‘Night of the Pumpkins’ or ‘Night of the Dead’ (October 31st – 1st November), as we call it in Galicia, an ancient Celtic festival is observed around the world.

Despite the twists and turns of history, we know well that this is a magical time – the most important of the year – as we celebrate the end of a cycle with a grand feast, cherishing the memory of the Ancestors, all those to whom we owe living as we live, knowing what we know, being who we are.

So get ready for winter! Now that the barns are full and we are certain that we’ll spend the cold season in good company. Let the Land gather renewed strenght, for the next thing will be the return of light and Spring.

Have a nice one and Happy New Celtic Year!

Click here to read more about the Magusto/Samhain/Halloween in English, or >here< to know more about the IDG.

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O nosso Património, a nossa memória e responsabilidade

Este 16 de Novembro celebra-se o Dia do Património Mundial, promovido pola UNESCO. Por isto, a Rede do Património Cultural, da que a IDG fai parte, contribui à visibilizaçom do nosso património cultural com mais de 40 actividades variadas organizadas polas entidades aderidas.

Sejam roteiros, conferências, concertos ou concursos, nom deixedes de assistir a algum destes eventos. Todas as informaçons, dias, horários e lugares podem-se consultar no sítio redepatrimonio.gal, onde há um mapa interactivo com os detalhes de toda e cada umha das celebraçons. De facto, a IDG já deu a voz de saída no passado sábado 10 com o V Magusto Celta de Pitões das Júnias 😉

A Rede do Patrimonio Cultural (RPC) é umha iniciativa que botou a andar em Junho de 2017 e à que pouco depois se uniu a IDG. A RPC entende o nosso património cultural como um dos principais activos sociais, identitários e económicos da Galiza (com extensom ao nosso entorno cultural mais imediato que é o Norte de Portugal e a Galiza exterior) e, portanto, um recurso estratégico para a sociedade galega contemporânea que deve ser conservado e transmitido.

Assim, a IDG encontra o seu perfeito encaixe aí pois nos seus estatutos recolhe a obriga de “promover e defender a cultura, língua, património, interesses, integridade, interesses e dignidade da [Callaecia]”, entendendo tamém o seu legado espiritual nativo como parte integral óbvia do património imaterial.

Nesta diversidade de focagens e necessária combinaçom de forças, a RPC pode ser vista como um instrumento orientado àqueles ámbitos territoriais ou sócio-políticos que resultam de difícil acesso para cada umha das entidades por separado.

Visitade entom o sítio da RPC e procurade as referências #DiadoPatrimónio, #AnoEuropeodoPatrimonio e #RededoPatrimónio nas redes sociais. Aí está tudo. Avante! 🙂

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Magusto, Halloween, Samhain… qual é o nome?

Magusto/Magosto, Halloween ou Samhain/Samaín? Como devemos chamar-lhe na Galiza?

Todas essas palavras e variantes indicam umha época (nom só um dia ou umha noite) que é esta época que começa em breve e que para nós, Druidistas, é a mais importante do ano.

Dito doutro jeito, venhem indicar o mesmo apesar das diferenças de forma, entendíveis pola separaçom geográfica e o passo do tempo.
Ora bem, essas diferenças de nome e forma seica proem algo de mais a algumha gente e fica tudo um pouquinho exagerado 😉

Como Druidistas obviamente nom observamos essa celebraçom mas, a modo de exemplo, seria como discutir se o Natal deveria chamar-se Christmas (em inglês) ou Nollaig (em gaélico), fazendo referência tamém às óbvias diferenças de forma nos EUA, na Irlanda e na Galiza. Claro que é diferente e tem nomes diferentes, mas responde a um mesmo fenómeno.

Entendamos que foi paradoxalmente “graças” à invasom comercial do Halloween (desde os EUA) que acabamos por estabelecer a conexom com o Samhain (irlandês) e daí a contextualizaçom e investigaçom do nosso próprio Magusto dentro do seu marco cultural natural que é a Europa Atlântica.

Na Irlanda andam no mesmo processo, seja dito, derivado igualmente dum rejeitamento ao comercialismo extremo que chega da outra beira do oceano. É só agora que muita gente lá conhece a realidade do Halloween como umha festa celta exportada polos seus próprios emigrantes e retornada séculos depois com alguns enfeites de mais (por dizê-lo de maneira amável).

Mas fagamos memória nós: Quem falava nas ruas da Galiza do Samhain há uns anos?
Agora está nas escolas, na publicidade, nos centros sociais, e cria-se umha espécie de “ortodoxia” contra o Halloween como se Samhain/Samaín fora palavra galega (que nom é) e representara melhor algo que percebemos como deturpado no Halloween.

Porém, haveria que ver isto com umha afortunada e inesperada re-descoberta a grande escala da nossa conexom altântica. Sejamos consequentes entom, admitamo-lo e entendamos que estamos ainda no meio dum processo. Poderíamos dizer algo assim como “Thank you Halloween – Bye bye Halloween” 😀

Numha reviravolta mais à frente veremos que sempre foi o Magusto quando passe, tamém, a moda do Samaín (em verdade pronunciado ‘sáu-in’), e que Magusto é a palavra a usar na Galiza maravilhando-nos à vez no milenar vencelho da nossa grande cultura céltica.

Assim pois, aprendamos o que de verdade era celebrado nestes dias além do nome, recuperemos todos os costumes tradicionais idênticos cá e lá, desejemos aos nossos irmans e irmás do norte um feliz Samhain e partilhemos com eles e elas o nosso Magusto, que é muito mais que simplesmente comer castanhas. Por isto nom perdades a publicaçom especial que colocaremos na manhá do dia 31… 😉

 

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