Acouga Brigantia, salta a lebre: É a Alvorada da Terra

O animal desta época, a Lebre, nom o é por casualidade. Símbolo de fertilidade, é a encarregada de cuidar do ovo (fruto do ventre – i mbolg) pois Brigantia começa já a ficar cansa… Foto: C. Galliani.

Este ano é na madrugada do 19 para 20 de Março quando o Sol deterá-se e tomará fôlegos por um intre na sua viagem enquanto equilibra luzes e trevas. Às 04:06 (norte do Minho; 03:06 no sul) tem lugar o Equinócio de Primavera, quando depois de finalmente alcançar à escuridade o dia dura tanto como a noite.

É o que muitos e muitas denominam Alban Eilir, “A Luz da Terra”, Mean Earraigh, “Meia Primavera”, ou Alban Talamonos, “O Amencer da Terra”; Ostara nos cultos germânicos e wiccanos, o início do ano astrológico para outros.

Nós chamamos-lhe A (Festa da) Alvorada da Terra e é um dos quatro  eventos astronómicos que intercalam as grandes celebraçons religiosas da Roda do Ano , é dizer, o ciclo completo das oito celebraçons da Druidaria combinando quatro maiores (religiosas, com começo no Magusto, em Novembro) e quatro menores (astronómicas: solstícios e equinócios).

Continuamos assim o caminho indicado no Entroido (Imbolc). Vai resultando evidente que a chegada dos Maios (Beltaine) e imparável. A Natureza cumpre os seus ciclos mais umha vez, por muito que haja quem teime em ignorá-la e daná-la. Por fim vai agromando a vida por toda parte; é óbvio e palpável.

Pensemos tamém em que, além dos problemas humanos (sempre temporários), a luz e os primeiros verdes e flores nom enganam. Activa-se a fertilidade e maravilhamo-nos de como a planta sabe quando tem que medrar, quando tem que sair do ovo protegido por umha lebre, simbolismo do que significavam os frutos “no ventre” (i mbolg) da Deusa Brigantia, que nom parou de sorrir desde o Entroido.

Renovam-se desta forma as intençons desse Entroido: continua a preparaçom, cuidado e sementado da terra, mas esta já reverdece. Pode-se pôr outra vez a casa em ordem e continuarmos a limpeza, tamém interior, porque com esta luz podemos ver melhor todo recanto escuro, em toda parte, e nom deixarmos nada sem arranjar.

Bom Equinócio de Primavera entom. Recebide a acougante Alban Eilir num agarimoso abraço. Empregade bem o tempo da Mean Earraigh. Espreguiçade-vos com o Alban Talamonos. Acordade com a terra que recebe a sua Alvorada. Luz de carqueixa!

<< Dim que nom falam as plantas, nem as fontes, nem os pássaros,
nem a onda co’s seus rumores, nem c’o seu brilho os astros,
di-no, mas nom é certo, pois sempre quando eu passo,
de mim murmuram exclamam:
Aí vai a tola sonhando
co’a eterna primavera da vida e dos campos
e já bem cedo, bem cedo, terá os cabelos canos,
e vê tremendo, aterecida, que cobre a giada o prado.

Hai brancas na minha cabeça, hai nos prados giada,
mas eu prossigo sonhando, pobre, incurável sonâmbula
co’a eterna primavera da vida que se apaga
e a perene frescura dos campos e as almas,
ainda que os uns esgotam-se e ainda que as outras abrasam.

Astros e fontes e flores, nom murmuredes dos meus sonhos,
sem eles, como admirar-vos nem como viver sem eles? >>

(Rosalia de Castro, 1884)

pagan_easter

Gostas da IDG? Tu podes ajudar a que este trabalho continue – Do you like the IDG? You can help us continuing our work 🙂

Salta a lebre, acouga Brigantia. É a Alvorada da Terra

O animal desta época, a Lebre, nom o é por casualidade. Símbolo de fertilidade, é a encarregada de cuidar do ovo (fruto do ventre – i mbolg) pois Brigantia começa já a ficar cansa… Foto: C. Galliani.

Este ano é na tarde do 20 de Março quando o Sol deterá-se e tomará fôlegos por um intre na sua viagem enquanto equilibra luzes e trevas. Às 16:33 (norte do Minho; 15:33 no sul) tem lugar o Equinócio de Primavera, quando depois de finalmente alcançar à escuridade o dia dura tanto como a noite.

É o que muitos e muitas denominam Alban Eilir, “A Luz da Terra”, Mean Earraigh, “Meia Primavera”, ou Alban Talamonos, “O Amencer da Terra”; Ostara nos cultos germânicos e wiccanos, o início do ano astrológico para outros.

Nós chamamos-lhe A (Festa da) Alvorada da Terra e é um dos quatro  eventos astronómicos que intercalam as grandes celebraçons religiosas da Roda do Ano , é dizer, o ciclo completo das oito celebraçons da Druidaria combinando quatro maiores (religiosas, com começo no Magusto, em Novembro) e quatro menores (astronómicas: solstícios e equinócios).

Continuamos assim o caminho indicado no Entroido (Imbolc). Vai resultando evidente que a chegada dos Maios (Beltaine) e imparável. A Natureza cumpre os seus ciclos mais umha vez, por muito que haja quem teime em ignorá-la e daná-la. Por fim vai agromando a vida por toda parte; é óbvio e palpável.

Pensemos tamém em que, além dos problemas humanos (sempre temporários), a luz e os primeiros verdes e flores nom enganam. Activa-se a fertilidade e maravilhamo-nos de como a planta sabe quando tem que medrar, quando tem que sair do ovo protegido por umha lebre, simbolismo do que significavam os frutos “no ventre” (i mbolg) da Deusa Brigantia, que nom parou de sorrir desde o Entroido.

Renovam-se desta forma as intençons desse Entroido: continua a preparaçom, cuidado e sementado da terra, mas esta já reverdece. Pode-se pôr outra vez a casa em ordem e continuarmos a limpeza, tamém interior, porque com esta luz podemos ver melhor todo recanto escuro, em toda parte, e nom deixarmos nada sem arranjar.

Bom Equinócio de Primavera entom. Recebide a acougante Alban Eilir num agarimoso abraço. Empregade bem o tempo da Mean Earraigh. Espreguiçade-vos com o Alban Talamonos. Acordade com a terra que recebe a sua Alvorada. Luz de carqueixa!

<< Dim que nom falam as plantas, nem as fontes, nem os pássaros,
nem a onda co’s seus rumores, nem c’o seu brilho os astros,
di-no, mas nom é certo, pois sempre quando eu passo,
de mim murmuram exclamam:
Aí vai a tola sonhando
co’a eterna primavera da vida e dos campos
e já bem cedo, bem cedo, terá os cabelos canos,
e vê tremendo, aterecida, que cobre a giada o prado.

Hai brancas na minha cabeça, hai nos prados giada,
mas eu prossigo sonhando, pobre, incurável sonâmbula
co’a eterna primavera da vida que se apaga
e a perene frescura dos campos e as almas,
ainda que os uns esgotam-se e ainda que as outras abrasam.

Astros e fontes e flores, nom murmuredes dos meus sonhos,
sem eles, como admirar-vos nem como viver sem eles? >>

(Rosalia de Castro, 1884)

pagan_easter

Gostas da IDG? Tu podes ajudar a que este trabalho continue – Do you like the IDG? You can help us continuing our work 🙂

Druidaria e saúde – Druidry and health

(scroll down for English version)

A Natureza é tudo – Nature is everything

Há quem se pergunta sobre a relevância ou a conexom da Druidaria com situaçons como o actual alarme sanitário provocado polo coronavírus COVID-19.

Se bem a IDG emitiu um comunicado inicial de teor mais social, é certo que desde o ponto de vista estritamente religioso podemos (e devemos) reflexionar sobre o lugar das nossas Deidades e interrogar as nossas crenças em relaçom ao tema da saúde física e sanaçom.

Repete-se muito, e nom por isso é menos importante insistirmos, que a Druidaria nom contempla nada “sobrenatural”, tal conceito nom existe, pois nada está fora da Natureza.
A Natureza é o absoluto, desde o mais pequeno elemento de construçom da realidade até o conjunto inteiro de toda existência. Nada fica fora nem é externo, e tamém nom as nossas Deidades, que operam dentro dela.

Na nossa crença as Deidades derivam da Natureza, pois nom acreditamos na criaçom exógena (eis Elas nom criam da nada). Elas e nós avançamos num constante fluir pode que mais rápido, pode que mais lento, pode que a velocidades muito desiguais, e isso explica a ordem intrínseca dentro dessa Natureza (percebemos a ordem porque formamos parte dela), onde à vez tudo fica sempre interligado.
Desta maneira na Druidaria nom existe um único deus supremo ou criador, nem conceito de salvaçom, pecado, revelaçons, milagres ou tantas outras ideias presentes noutras religions. As nossas Deidades predicam com o exemplo, mostram e ensinam esse caminho, som mestres e mestras para quem quiser acompanhar.

Isto tudo é importante na compreensom dos fenómenos naturais que se desenrolam, precisamente, dos mecanismos inerentes da Natureza e que som estudados pola ciência. De facto, a ciência é totalmente imprescindível para um melhor entendimento da sociedade, história e da Natureza e, em consequência, para um melhor conhecimento da própria Druidaria. Quanto mais preciso e definitivo o saber científico, mais precisa e acertada a nossa percepçom da realidade e, portanto, melhor entenderemos os processos que nos relacionam com o resto do Cosmos.
Nom esqueçamos que os Durbedes (Druidas e Druidesas de antano) eram, entre outras cousas, os cientistas e médicos da sua época.

Assim pois, é um mal como umha pandemia “culpa” das Deidades? Em absoluto. Nom é “culpa” de ninguém, a Natureza nom entende dessas “culpas”. Um vírus como ser vivo é mais um elemento que tem o seu momento e o seu lugar, como temos nós, e nessa dialéctica estranha age a doença contra as nossas defesas, a sua adaptaçom contra a nossa medicina, o seu proveito contra o nosso descuido ou malfazer.

Som as Deidades insensíveis ao nosso sofrimento? Nom, claro, mas a realidade é que a maioria de nós crescemos numha sociedade onde o divino disque é misericordioso, amoroso e que exige às crentes sujeiçom às suas regras em troca da concessom da sua ajuda e apoio. Na Druidaria essa troca nom acontece assim, nom seria justo, como nom o seria um mestre ou mestra dar as respostas do exame.

O Deus Endovélico /|\, sábio Senhor da Medicina e da Investigaçom, é o exemplo do estudioso perene, procurando fórmulas, encontrando soluçons. Esse é o modelo, essa é a inspiraçom que nos pode sussurrar nas nossas conversas e petiçons. Ele é luminoso, mas o seu lar pode estar no mais profundo, agochado entre as rochas, onde pode trabalhar tranquilo e aprender o que fica no escuro e nom toda a gente vê. E ainda assim, a sua porta está aberta como a do gabinete desse professor a quem ir consultar, mas que nom vai fazer a tarefa por nós.

Sim, a religiom e filosofia celta requer trabalho, esforço, onde há ajuda excepcional vinda doutros domínios aos que nom temos acesso, mas nunca “paranormal”. A Divindade tem esse nome porque assim o ganhou, e nós havemos ganhar o nosso.

Aprendamos. Amemos. Riamos.

O céu ainda nom caiu sobre as nossas cabeças.

 

[in English]

There are those who wonder about the relevance of Druidry or its connection to situations such as the current health alarm triggered by the COVID-19 coronavirus.

Although the IDG issued an initial statement with a more social approach [in Galizan only], it is true that from a strictly religious point of view we can (and must) reflect on the place of our Deities and question our beliefs in relation to the issue of physical health and healing.

We often state, yet it is important to insist on it, that Druidry does not consider anything as being “supernatural”. Such a concept does not exist, because nothing is outside Nature.
Nature is the absolute, from the smallest element in the construction of reality to the whole of all existence. Nothing stays outside or is external, not even our Celtic Deities, who operate within it.

In our belief Deities are derived from Nature, as we do not believe in exogenous creation (hence They do not create out of nothing). Them and us move forward in a constant flow that may be swifter, may be slower, may even go at very uneven speeds, yet this explains the intrinsic order within Nature – we perceive the order because we are part of it – where at the same time everything is interconnected .
Thus, in Druidry there is no single supreme god or creator, neither are there the concepts of salvation, sin, revelation, miracle or so many other ideas present in other religions. Our Deities teach by example, They show the path, They are teachers for those willing to follow on their steps.

This is all important in understanding the natural phenomena that actually unfold the mechanisms inherent in nature which are studied by science. In fact, science is absolutely essential for a better understanding of society, history and Nature and, consequently, for a better knowledge of Druidry itself. The more precise and definitive scientific knowledge, the more precise and accurate our perception of reality will be and, therefore, the better we will understand the processes that bind us to the rest of the Cosmos.
Let us not forget that the Durbedes (ancient Druids) were, among other things, the scientists and doctors or their time.

So are Deities “guilty” of an evil like a pandemic? Not at all. It is nobody’s “guilt” or “fault”, Nature does not care about that. A virus, as a living being, is yet another element that has its moment and its place, as we have, and it is in this strange dialectic where disease acts against our defenses; it is its adaptation against our medicine, its profit against our sloppiness or carelessness.

Are the Deities insensitive to our suffering? Of course not. Still, the reality is that the majority of us grew up in a society where the divine was spoken of as merciful, loving and demanding: demanding that its believers subject themselves to its laws in exchange for concessions of help and support. In Druidry such an exchange does not work like that, it would not be fair, as it would not be fair for a teacher to hand us the exam answers before it starts.

God Endovélico /|\, wise Lord of Medicine and Research, is the example of the tireless scholar, searching out formulas, finding solutions. That is the role model, that is the inspiration being whispered to us in our conversations and petitions. He is full of light, but His home could be in the deepest shadows, hidden away between the rocks, where He can work in peace, learning about the things that lurk in the dark, the things that not everyone sees. However, His door is always open, like a teacher’s office with whom we can confer, but He will surely not do the homework for us.

Yes, Celtic philosophy and religion require work and effort. We can have the most exceptional help coming from other domains we have no access to, but it is never “paranormal”. The Divinity carries that name because it was earned; likewise, we have to earn ours.

Learn. Love. Laugh.

The sky has not fallen on our heads yet.

 

Gostas da IDG? Tu podes ajudar a que este trabalho continue – Do you like the IDG? You can help us continuing our work 🙂